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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Nenhum lugar para se chamar de Lar: Brasileiros descendentes de Japoneses descobrem que são estrangeiros na terra de seus ancestrais


Hoje eu resolvi comentar sobre um artigo que eu li esse dias, escrito por Takeyuki Tsuda, Professor Antropologista da faculdade de Evolução Humana & Mudanças Sociais na Universidade do estado de Arizona. Achei bem interessante este artigo, pois Takeyuki Tsuda além de ter escrito várias publicações relacionadas ao "fenômeno" dekassegui; ele, assim como muitos de nós, é um descendente de Japoneses que cresceu nos EUA em volta de uma cultura que também é bem diferente da raíz dos nossos antepassados. Acho que Takeyuki, após suas pesquisas, experiências e entrevistas em campo entre ambos os lados (Japoneses e Brasileiros descendentes de Japoneses) descreve bem o drama ocorrido nos sentimentos de ambos os lados.
Os Brasileiros descendentes que apesar de nascidos e crescidos no Brasil, muitos se sentiam (mesmo que camufladamente em seu consciente), como Japoneses, dado a diversos fatores que entre os principais talvez seja a educação e cultura que recebemos, chegando até ao ponto de alguns receberem com um certo grau elevado de rigidez pelos nossos antepassados e o fato da fisionomia herdada pela etnia oriental que nos diferencia da grande parte da população com traços ocidentais no Brasil. É muito comum ouvir queixas de descendentes, sobre aqui no Japão sermos chamados de Brasileiros e de no Brasil sermos Japoneses.

No place to call home: Japanese-Brazilians discover they are foreigners in the country of their ancestors
-...Um jovem estudante Brasileiro Nikkei me contou com uma ponta de indignação em sua voz: “Mesmo se for completamente Brasileiro e agir como Brasileiro, nós sempre seremos Japoneses por causa de nossas faces... Podemos ir assistir e torcer por nosso time de futebol favorito, até mesmo dançar samba na rua, mas sempre terá algém que vai chama-lo: Ei Japonês!...”- -... Um jovem Japonês me dizia: “A primeira vez que os Japoneses-Brasileiros vieram para a cidade, eu fiquei realmente surpreso, eu pensei, nossa... olha esses tipos! Afinal, de que mundo eles são? Eles parecem Japoneses mas não são Japoneses de verdade. Eles agem completamente diferente, falam outro idioma e se vestem de formas estranhas... Eles são como falsos Japoneses, como os super-heróis que você na TV...”
 Por um lado, temos os mesmos gostos, absorvemos e vivenciamos a mesma cultura, falamos a mesma língua, estudamos os mesmos livros, mas nossas faces nos diferenciam e nos registram como Japoneses.Por outro lado, nossas faces se igualam na multidão, mas nossos atos, nossos pensamentos, nossos vestimentos e a nossa língua nos diferenciam e nos registram como Brasileiros.

-Um morador classe média me contava: “Eles parecem ser como pessoas vindo de vilas rurais e pobres. São do tipo de pessoas de baixo nível que não poderia viver no Japão, então eles descartaram o Japão e foram para o estrangeiro...” Os Japoneses nativos também pensam que os Japoneses-Brasileiros tem migrado agora ao Japão porque também não conseguiram sucesso no Brasil - - Mas em contratapartida é o grupo minoritário que mais não sofre com o estatus sócio-econômico e discriminações, já que os Japoneses-Brasileiros geralmente fazem parte da classe média-alta e sempre estão sendo adimirados pelos atributos de” suas” culturas Japonesas. -
 Aqui torna-se outro choque para os Nikkeis, onde no Brasil é comum escutar sempre um elogio aos nikkeis, do tipo "não existe nikkeis morando em favela", "nikkeis são inteligentes", "nikkeis sabem prosperar", elogios e estatus que os Nikkeis estavam acostumados a receber. Enquanto no Japão, nossos antepassados foram e ainda são vistos como fracos e pobres que juntado ao regresso de seus descendentes ao Japão para ganhar dinheiro, foi o marco para a confirmação do que pensavam e considerarem de vez como "fracassados"

- Autoridades do Governo, acreditavam que nikkeijin iriam se assimilar sem problemas dentro da sociedade Japonesa, proporcionando a mão de obra necessária sem perturbar a homogeneidade ética do Japão. - - A aparência racial que marca o Japonês como a minoria no Brasil, não os diferencia quando chegam ao Japão, mas isso não os poupa de serem vitos como uma minoria étnica. Tanto como funcionários do Governo Japonês como a maioria dos trabalhadores e residentes Japoneses que entrevistei, estavam muito desapontados em descobrir como culturalmente o Brasileiro nikkeijin tinha se tornado. - - Muitos Japoneses-Brasileiros retornavam ao país de origem da sua etnia, esperando ser socialmente aceitos, se não bem recebidos, se desapontam ao saber que são socialmente isolados e tratados como estrangeiros. -
 Aqueles que receberam a educação e cultura dentro dos costumes Japoneses, tem menos dificuldades para envolver-se com a sociedade Japonesa. Mas mesmo com tanta familiariedade com a cultura Japonesa, o grau de envolvimento com a cultura e educação dentro dos costumes Brasileiros sempre foi maior. É difícil prosperar em algum lugar sem que não haja nenhum envolvimento, tanto que os nikkeis que prosperaram e se destacaram no Brasil, foram os que entraram e acompanharam a sociedade Brasileira, nos estudos e cultura. Não é a aparência, nem a nacionalidade, nem feitos e desfeitos de antepassados que nos fazem mais ou nos fazem menos para ser aceito na sociedade, mas é o grau que absorvemos para se envolver e acompanhar como iguais na sociedade em que vivemos hoje.

-Uma senhora Japonesa me contava: “Mesmo se eles não tiverem dinheiro para viver amanhã, eles decidem curtir a vida hoje e preocupar-se com o amanhã quando isso acontecer. Eles são pessoas abertas e joviais, mas negligentes, irresponsáveis e preguiçosos. Países de clima quente são assim...” - Alguns moradores Japoneses reclamaram que os Japoneses-Brasileiros que vivem na vizinhança, fazem excessivo barulhos em seus apartamentos e fazendo festas até tarde da noite nos fins de semana.
-Um nikkei dizia: “Para ser considerado Japonês, não é suficiente ter a face Japonesa e comer com palitos, você deve pensar, agir e falar igualmente os Japoneses...” - - No Brasil, os Japoneses-Brasileiros consideravam suas condutas relativamente calma e contida. No Japão, eles descobrem que o jeito de andar, se vestir, se gesticular, é extremamente diferente de todos os Japoneses e ao mesmo tempo, alegam que em comparação os Japoneses são pessoas sem “calor humano”. -
 Conflitos provocados pelo choque cultural onde um lado nos veêm como inconsequentes irresponsáveis e bagunçeiros e o outro como pessoas frias, "sem calor humano". Conflitos que me fizeram pensar se o depoimento do Japonês lá em cima não estava certo ao dizer que parecemos "falsos Japoneses" ou até mesmo o depoimento desta senhora ao dizer que deixamos para nos preocupar com o amanhã somente qndo esse amanhã se torna o hoje, depois de tudo o que aconteceu com essa crise...

- Quando negam o carinho que tinham anteriormente por sua indentidade Japonesa, muitos Nikkeis procuram pela religião para preencher o vazio. Outros, particularmente aqueles que estão isolados por outros da mesma etnia, sofrem com desordem mental, criando amigos imaginários ou até passando para comportamentos suicidas ou criminosos. - - Mas a reação mais comum é a reafirmação de suas indentidade Brasileira em vez de lutar para misturar-se como nativo, começam a agir abertamente de maneira Brasileira, falando Português em tom alto publicamente, vestindo roupas brasileiras e se apresentando como Brasileiros. - - Eles também começam a participar de forma mais activa do que já fez no Brasil, em eventos com músicas, dança, roupas e comidas Brasileiras. Entre os mais visíveis eventos “Brasileiro”, são os desfiles de samba, organizados nas comunidades com alta concentração de nikkeijins. Embora a maioria dos nikkeis nunca terem se interessado em participar do samba no Brasil ( sendo até desprezada como uma atividade fútil), eles de repente se veêm dançando samba no Japão -
 Eu acho que isso seria a resposta mais propícia para responder a minha pergunta de onde vem o excessivo "orgulho de ser Brasileiro" que muitos Brasileiros andam esbravejando por aí... Agora só me resta saber se esse "orgulho" vem do choque cultural entre os dois países, fazendo-os perceberem que por mais que tenham vindo da etnia Japonesa, o quão Brasileiros eles são no comportamental ou se esse orgulho brota de dentro do seus sentimentos de rejeição e ego ferido.

- Mesmo que tentem se misturar ao resto da sociedade Japonesa, os nikeijins tem poucas chances de fazê-lo. O grande número ddaqueles que desistiram de seus planos originais de retornarem ao Brasil, vão viver suas vidas como estrangeiro. Muitos de seus filhos porém, serão capaz de preencher a lacuna étnica. Eles não estão apenas aprendendo o idioma nas escolas Japonesas, eles também estão adotando atitudes Japonesas e até mesmo preconceitos sobre o país que seus pais deixaram para trás. -
 É a história de nossos antepassados Japoneses se repetindo hoje no caminho inverso. Como eu nunca vi nenhum Japonês imigrante daquela época que tenha se tornado bem aceito e bem sucedido no Brasil e sim somente seus filhos que nasceram e cresceram participando da sociedade Brasileira, acredito que não verei por aqui tbm. Igualmente esses filhos que nascerem e crescerem aqui é que podem ter a chance de misturar-se à sociedade, conquistando espaços e respeito como iguais, porém sempre Brasileiros, como sempre fomos e somos Japoneses no Brasil.

2 comentários:

  1. Todos tem uma razão para deixarem suas terras para viver em outro país ou região pretendendo voltar um dia ou não.
    A razão principal quase sempre é a econômica.
    A população japonesa no começo do século XX crescia em meio às guerras e a escassez de alimentos e terras.
    Hoje a segunda economia mundial tem de ser mantida, mas a população diminui cada vez mais; não há mão de obra operária e portanto os nipobrasileiros preenchem essa lacuna.
    Nós é que mais trabalhamos consumimos temos filhos e movimentamos o país.
    Logo não terão pq nos discriminar ou desprezar!!

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  2. muitos japoneses tornaram-se bem sucedidos aqui, prin cipalmente os que vieram depois da guerra, a ponto de mandarem seus filhos para faculdade,tornarem-se empresários em diversas áreas.

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